sábado, 15 de março de 2008

Uma estrada em três atos

Em Clube da Luta, o Narrador (Edward Norton) diz, a certa altura:


"Perder todas as esperanças é encontrar a liberdade."

Tomo a vez da Tia pra postar algo que vem me cercando ultimamente: sensações. Aquelas que se tem quando nada dá certo, ou quando tudo acontece numa descida nauseante e a vertigem é só a sobremesa de toda a salada emocional. Ou quando se trava numa trilha da estrada que se tem a percorrer e não se sabe que caminho seguir.

E, matutando sobre as tais sensações, me vejo dividindo a time line da vida em três atos distintos. Não excludentes, não únicos, mas distintos.
Um deles é a provação.

Quando Andy viu a grade fechar a cela onde deveria dormir o resto de sua vida, pergunto-me o que sentiu: raiva, desespero ou qualquer outro sentimento dilacerante. É uma sensação familiar. Não a grade fechando sua vida, mas o espaço diminuto para a sua liberdade, para a justiça coexistir conosco em um mundo fadado ao desespero. Não se tem para onde ir ou para onde voltar.

Tem-se exemplos clássicos nas artes: Capitães da Areia, O labirinto do Fauno e a lista é longa. O que se tem em comum aqui é a parede fechando-se sobre você. O peso nos seus ombros, o fôlego entrecortado e a completa desesperança.

Eu, pessoalmente, passei por isso. Por isso só posso falar de mim, não especificamente. A sensação é universal, sentir-se impotente, desesperado, destinado ao fracasso pessoal, social, emocional. Há um fio de coragem, como uma corrente alternada, que dá forças para prosseguir. É o que difere os fracos dos fortes. A anuência total com a tragédia e a falta de hábito para largar-se e esperar o fim do mundo. É como o boxe: se entra no ringue para apanhar, para sentir dor. É uma concepção ao contrário, antinatural.

E, quando se está, para usar um clichê famoso, no fundo do poço, é que vem a vontade de subir. Aquela injeção de ânimo que corre nas veias como ácido de bateria.

A superação.

Quando se acua um animal selvagem, a única coisa que ele pode fazer é virar-se para você e atacar. Não há saída. Não há escapatória. Só resta uma coisa fazer: tornar seus últimos minutos com vida, memoráveis.

É neste estado em que me encontro. Não que eu vá atacar alguém ou pedir a Deus viver bem meus últimos minutos. Fala-se aqui do encontro da desesperança com a perseverança. Acabam-se a tensão, o desespero. Num outro clichê, é o que se chama de hora da verdade. Onde separam-se os meninos dos homens, como gostam os norte-americanos. Esquecer a cabeça e agarrar-se aos culhões, como diria Nick Conklin.

Trampo, relacionamento, dificuldades financeiras. Tudo é motivo para embarcar nesta jornada de agonias. Não há muito que se descrever este capítulo, é uma espécie de leitura dinâmica, rápida, rasteira e incongruente.

Normalmente é um estágio em que se perde o medo de falar certas verdades, não se está nem aí, não se quer saber, soca-se a bota e toca-se o barco.


A redenção.



O momento mais sublime a que se pode aspirar. Não é a resolução de todos os problemas, na verdade traz mais alguns, só que junto também traz a verve do artilheiro, aquela pessoa que vence não porque é o melhor e sim porque aproveitou as oportunidades, ganhou terreno e foi em frente.

Ainda não cheguei nesse ato, luto para alcançá-lo em breve.

É como disse de fato, o Narrador.
"Perder todas as esperanças é encontrar a liberdade."

8 comentários:

Anônimo disse...

Pô, Osi... back again. Estamos no mesmo estado de espírito. Escrever, então, que compartilho a mesma sensação seria pobre. Me reservo apenas o direito de pensar e refletir. A tal liberdade citada está aqui.

Caféína disse...

Acredito que o momento de superação é o sentimento mais intenso que sentimos! Mesmo que o de provação tenha sido intenso e doloroso! A redenção vem com um sabor delicioso!!
No que precisar, e puder ajudar, to aqui, tá?

Anônimo disse...

Nossa, perfeito, já passei por várias dessas fases, por vários motivos. E é incrível como aparece de repente, uma coragem que jamais imaginei ter um dia...

Sobre redenção, acho que ainda estou a caminho tb...

bjos, Osi!

Mysterious Ways disse...

Post show.

bjs

.Intense. disse...

Finalmente vim visitar seu novo 'canto'. Finalmente vc comentou por lá - eu já tava pensando que será que tinha acontecido que vc tinha desaparecido.

Adorei o post, me senti 'sentindo' vc falando à sério pela primeira vez. E me perdoe por essa confissão. Mas é verdade.

Sobretudo, me deu um pouco de tristeza, eu não sei...acho que não estou sabendo me encontrar, dizer em que momento eu tou, só me vejo usando de tudo pra fugir de um monte de outras coisas.

Ixi, q complicado.
Osimar? não deixe de postar. Vc escreve MUITO.

;)

Anônimo disse...

Oi Osimar,

O Clube da Luta leva qualquer pessoa a ter pensamentos insanos.

Você não é um loser de carteirinha, né? tenho certeza que teus objetivos são beem maiores.

Essa frase de perder as esperanças pra encontrar a liberdade, sei não ....tá mais pra diretor de cinema que quer provar que fumar crack faz mal pra saude. Dos outros, não a dele ....hehe

Bom agora vamos ao que interessa: a redenção só vem quando se perde o medo. E cadê? quem não tem medo?

E eu adorei a maneira como você escreveu.

Beijo grande

Cansei de ser abduzida disse...

Saco Brimo!! ainda não encontrei a liberdade!!

beijos.. te cuida bem!

Jenna Rink disse...

Adorei teu post.
Muitas dessas histórias já me haviam sido contadas por você, mas a do seu pai ir te buscar quando você estava se afogando me fez gargalhar aqui.

Te amo !

Beijo e não esquece do nosso encontrinho de amanhã, hum?